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Sólido Volátil

Curadoria Eder Chiodetto
Setembro 2023

formas

que formam o infinito

que nos desformam

chegam para relembrar

que a vida é feita

para brincar

 

nosso díptico nos uniu

viramos uma obra só

só sabemos viver em um

 

meu ritmo desacelera

com seu reflexo

medito

a voz das ondas

 

o Sudoeste

nosso parque de diversões

o movimento

nosso êxtase

 

entramos nessa esfera

vazia

nesse lugar desconhecido

que parece familiar

um regresso

um sentimento

ambíguo

 

esse oco existencial

 

será que olhando o passado

passamos a entender o presente?

 

eu te perguntando

você me perguntando

todos nos perguntando

se no silêncio

escutamos um ao outro

se no silêncio

nos preenchemos 

se nos desconstruímos

para nos reconstruirmos

se desaprendemos

para juntos, aprendermos

a viver

 

a memória

nossa ilha de edição

embaralhando

o tudo e o nada

 

a certeza

da inexistência do tempo

a incerteza

da nossa existência

 

me espanto

com a distância

 

como um sopro

vou projetando

meu desaparecimento

me alienando

no meu próprio corpo

 

alguma coisa me abraça

me diz que eu sou eu

me diz quem sou eu

um sabor

uma nota

 

me esconder com você

nós dois

navegando ao mesmo nó

raiando na lua

 

procuro a caminhada sem fim

                                                                                                                              Luciana Rique

Sólido Volátil

 

Certas artistas, ao se depararem com os dilemas da existência, que inevitavelmente contém narrativas opressivas e signatárias de traumas adquiridos ao longo da vida, fazem do gesto artístico uma forma terapêutica de superação desse estado das coisas. A arte irrompe, então, com seu potencial de transmutação da realidade, capaz de criar um ambiente acolhedor e terapêutico.

Em Sólido Volátil, a artista segue partindo de imagens fotográficas, as quais ela obtém por meio de uma forma singular de captar vestígios, encontros de formas, cadências de luz e texturas que, em geral, escapam a um olhar menos atento. Essas imagens, que emergem de um estado contemplativo e se manifestam como a materialidade visível de um universo particular, agora se esmeram em tornar volátil a solidez dos pesos e contrapesos que insistimos em carregar vida afora.

Luciana Rique expande o uso da fotografia, buscando agora um diálogo das imagens com materiais que criam tensões e distensões no corpo das obras, resultando em peças nas quais a leveza, o equilíbrio e um premente estado de fruição sensorial dão a tônica que impulsiona esse desejo de transmutação.

Os suportes tradicionais da fotografia como o papel, a moldura e o vidro perdem seu caráter utilitário que visa apenas a conservação das obras. Assim, a fotografia passa a ser objeto, o vidro se torna obra, o reflexo e a opacidade revelam como as luzes incidentais moldam nossa percepção do mundo.

Território de apaziguamentos e equilíbrios de forças contrárias, a obra visual e poética de Luciana Rique se configura como um ambiente que tem a capacidade de restaurar o eixo abalado pelos desequilíbrios dos nossos dias. Ou como diz o poeta mexicano Octavio Paz: “...a luta se resolve no poema, com o triunfo da imagem que abraça os contrários sem aniquilá-los”.

 

Eder Chiodetto

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